Entre sim não talvez, debut solo da Suzy é sim um acerto enorme.


Não perguntem por que, mas eu estava desproporcionalmente ansioso para o debut solo da Suzy. O pré-release de Pretend, mesmo sendo um instigador de modorra, me chamou ainda mais atenção pela profundidade da letra. Vai que pro single houvesse uma utópica colaboração entre melodia e texto? Difícil de acreditar, mas aconteceu. E eu nem falo isso para convencer a mim mesmo para não quebrar a coluna num tombo catastrófico do gigante da expectativa. Falo isso pois Yes No Maybe ficou bom, bom mesmo:



O quadro inicial já confirma algo: não será uma canção feliz. Um plano aéreo de uma cidade decrépita, sórdida e devidamente encardida, o que ou levará a um MV distópico, o que é plenamente duvidável no contexto, ou serve de metáfora visual social à sociedade ou à personagem central, no caso Suzy.

As próximas cenas, que chegam numa transição abrupta de cortes, entre o sombrio e o vermelho, já nos ambientam em Hong Kong e, caso haja algum cinéfilo aqui irá concordar comigo, evocam automaticamente a fotografia habitual de longas antigos do premiador diretor Wong Kar-Wai - e não à toa, vários comentários do Youtube mencionam isso. Eu recomendo fortemente que assistam Amor à Flor da Pele, Anjos Caídos e Amores Expressos, mas caso contrário, deixo um resumo do tema primordial dos longas do cineasta, principalmente na década passada: amor. Mas não uma versão idealizada. Wong, em síntese, elaborou várias visões que tinham em sintonia o fato de mostrar nossa impotência frente ao sentimento (à flor da pele); como somos, quando atingidos pela paixão, reféns de nós mesmos. Capazes de atos condenáveis e inimagináveis em circunstâncias normais.

Como bom profissional que é, sua abordagem narrativa não encontrava-se apenas no roteiro, no exposto, e sim nas minúcias, na direção de arte, figurinos e, é claro, na fotografia, com uso frequente de filtros em vermelho soturno, não plenamente vívido, pois revela também um lado sombrio inerente ao amor - e tudo isso marca presença em Yes No Maybe, sem esquecer também da direção desfocada e distorcida, que retrata bem o estado mental deturpado do indivíduo. Reparem que até mesmo as letterboxes em coloração negra contribuem para a imersão no universo soturno do MV.

Dito isso, torna-se fácil assimilar o que digo, já que, no desenrolar da curta história, vemos nada menos do que um sugerido assassinato - ou sonho, sim não talvez? - pelo primeiro amor da nação. 

Nada disso faria sentido, entretanto, se a música não acompanhasse o visual. Um MV é um produto audiovisual, mas usualmente mal aproveitado. Não aqui, o que torna a homenagem - sim, as semelhanças são tão claras que me permito utilizar este termo - ainda mais contundente e certeira, mesmo em seu curto tempo.

Previamente revelada vagamente como um EDM, não se nega a backtrack eletrônica alienígena de Yes No Maybe, mas em termos, executada como um midtempo melancólico ao invés do habitual Dance - o que é um acerto, visto que, assim como Fany, suas habilidades vocais são limitadas, e reconhecer e extrair o máximo disto é o melhor que podem fazer para suas carreiras solo. Pode ser decepcionante para muitos, como vejo nos comentários. Para mim, é basicamente um sonho. Uma combinação fantástica e inspirada entre duas de minhas artes favoritas: o cinema e a música, justamente no meu nicho predileto, o Pop Coreano.

E é simbólico que quem tenha proporcionado tudo isso tenha sido uma artista que até pouco tempo me passava apenas uma imagem de exímia superestimação e glorificação da beleza sobre o talento. Não mais, ao menos por enquanto.

Muito obrigado aos envolvidos.
suzy yes no maybe gif kpop
Eu que fiz o gif. De olho na ladroagem.
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