Back in Time #03: KARA - Break It e uma aula de K-pop clássico para a nova geração.


O Back in Time não tem bem uma periodicidade definida. Eu faço os posts quando uma força exterior me inspira a escrever sobre algum MV esquecido que surge meio que do nada. E assim foi com Break It; estava eu assistindo um filme neo-zelandês - Hunt for the Wilderpeople, bem bacana - quando, do além, o finado KARA desfilou por minhas memórias, num destes momentos indescritivelmente transcendentais e nostálgicos onde elevamos o espírito para épocas gloriosas da vida. Tudo isso sem usar de drogar ilícitas, diga-se.

Bem, o que importa é que esse pequeno devaneio serviu para evocar lembranças passadas e que me propiciam, até o momento (01:49am) uma espécia de viagem mental para a década passada, mais especificamente, 2007, quando você, muito provavelmente, era uma pequena criança xarope e Twices e Apinks da vida estavam longe de existir. 



Caras, eu não ouvia K-pop em 2007, então vou alterar de leve como conduzo o post. Não me transportarei à época, o comentando como faço com lançamentos normais. Não sejamos mentirosos. No respectivo ano, eu era um pivete de ensino fundamental que ocupava seu MP4 basicamente com aberturas de animes e aquele rock juvenil que achamos iradíssimo em idade sem pelo no sovaco.

O fato é que através de um estudo dedicado e que certamente explica minha falência atual, pude contemplar o cenário como era então.

Num período onde YG e JYP ainda não tinham o renome atual, o Big Three estava mais para um 'Big Two", entre SM - essa sim sempre no pico - e a DSP Media.

Desde o massivo investimento coreano em seus produtos culturais, para evitar uma sobreposição prejudicial do entretenimento Japonês ao país com a abolição da restrição de importação da terra de Utada Hikaru, as duas supracitadas empresas travaram épicas batalhas para garantir a liderança da indústria fonográfica mainstream. Deixando os ticos de lado - o lugar que eles merecem -, os grupos que criaram uma rivalidade tremenda, de fazer o confronto Sones x Blackjacks parecer um bando de mimados bocabertas - e não são?! - foram o SES, pela SM, e o Fin.K.L, pela DSP.
O Sexy de 2007. 
Numa era onde a mídia física preponderava e atos femininos vendiam tanto quanto masculinos, centenas de milhares de cópias mesmo, os dois grupos foram as mães do K-pop atual.

E com seu fim, SM e DSP não tardaram (ok, só pouquinho) em jogar no mercado as "filhas" das disbandadas - o KARA e, é claro, o SNSD, ambas em 2007. Era claramente uma tentativa de reviver o SES e Fin.K.L, sendo as soshis adeptas do pop mais inocente e grudento de suas Unnies , enquanto o KARA debutou com Break It, que tinha a exata áurea de uma boa parte do catálogo Fin.K.L, um R&B/ Pop classudo e dançante .

Mesmo sendo fruto de 2007, Break It é extremamente anacrônica, pois se pegarmos qualquer girl group dos 90s e early 2000s, seja o Spice Girls ou até o Rouge, veremos essa semelhança musical. Era tendência mundial, é claro.

Escute a faixa com os olhos grudados no MV e me diga, caro capopeiro da nova geração: você imagina algo assim hoje em dia? Nunca. É mais fácil os chineses voltarem pro EXO ou o YG cumprir uma promessa. A melodia com Pop de raiz e elementos R&B esta em desuso, mais rara que um single bom do Super Junior. Na indústria moderna, o EDM frenético e o Kawaii Concept parecem as únicas possibilidades cabíveis - e por isso glorifico, novamente, o comeback de Song Ji Eun, Bobby Doll.
Eu nem consigo distinguir essas pessoas mais.
O clipe, então, é uma graça peculiar. Não serei hipócrita. Nos meados de 2010 - 2011, eu era bem crítico quando aos vídeos em caixa. Bisonhos, normalmente entediantes e totalmente dependentes do carisma das integrantes e sua capacidade contorcionista para trabalhar a coreografia. Porém, vendo hoje, onde os MVs tornaram-se, em regra, grandes produções em locações externas e com pequenas histórias, é inevitável sentir um aperto de profundo saudosismo. Tempos que não virão mais.

E até por iso, por este estilo levemente defasado já ao nascimento, o KARA não foi o estouro imediato, tendo uma inicial dificuldade de se estabelecer num mercado imprevisível e em crescente ascensão.

'The First Blooming', primeiro LP das meninas, foi o único que seguiu este gênero maduro e teve a formação original. A partir do próximo álbum, Rock U, Sunghee já não mais fazia parte da line, e com os acréscimos de Hara e Jiyoung, a DSP se rendeu ao modismo, primeiramente ao bubblegum pop bem ao estilo Apink, e posteriormente ao Dance-Pop que tornou-se marca registrada do KARA e as elevou entre os atos mais frutíferos e rentáveis da história do K(e J)-Pop. 

Para os capopeiros pós 2014, KARA pode ser um nome irrelevante e eu estou fazendo o papel de tio véio chato, mas é sempre bacana relembrar e valorizar esses dinossauros que tiveram tanta importância na popularização mundial da música Pop Coreana.

Para encerrar, fiquem com um dos momentos mais icônicos do K-pop, uma colaboração lendária e que abalou o mundo entre o KARA e Lee Hyori (ex-Fin.K.L, caso alguém não saiba), para Break It, no Music Bank de 2007, onde a estrutura fazia o Faustão parecer algo de Hollywood e com imagem de VHS. Melhor parar que logo estarei constrangedoramente aos prantos. Coisa de velho.


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